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O POVO DE ISRAEL
Emmanuel
ISRAEL
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os
hebreus que constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo
inalterados os seus caracteres através de todas as mutações.
Examinando esse povo notável no seu passado
longínquo, reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de
Deus, muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da
verdade e da vida.
Consciente da superioridade de seus valores,
nunca perdeu oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia
espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as demais
raças do orbe. Entretanto, em honra da verdade, somos obrigados a
reconhecer que Israel, num paradoxo flagrante, antecipando-se às
conquistas dos outros povos, ensinou de todos os tempos a fraternidade, a
par de uma fé soberana e imorredoura. Sem pátria e sem lar, esse povo
heróico tem sabido viver em todos os climas sociais e políticos,
exemplificando a solidariedade humana nas melhores tradições de trabalho;
sua existência histórica, contudo, é uma lição dolorosa para todos os
povos do mundo, das conseqüências nefastas do orgulho e do exclusivismo.
MOISÉS
As lendas da Torre de Babel não representam
um mito nas páginas antigas do Velho Testamento, porque o exílio na Terra
não pesou tanto às outras raças degredadas quanto na alma orgulhosa dos
judeus, inadaptados e revoltados num mundo que os não compreendia.
Sem procurarmos os seus antepassados,
anteriores a Moisés, vamos encontrar o grande legislador hebreu
saturando-se de todos os conhecimentos iniciáticos, no Egito antigo, onde
o seu espírito recebeu primorosa educação, à sombra do prestígio de
Termútis, cuja caridade fraterna o recolhera.
Moisés, na sua qualidade de mensageiro do
Divino Mestre, procura então concentrar o seu povo para a grande jornada
em busca da Terra da Promissão. Médium extraordinário, realiza grandes
feitos ante os seus irmãos e companheiros maravilhados. É quando então
recebe, de emissários do Cristo, no Sinai, os dez sagrados mandamentos
que, até hoje, representam a base de toda a justiça do mundo.
Antes de abandonar as lutas da Terra, na
extática visão da Terra Prometida, Moisés lega à posteridade as suas
tradições no Pentateuco, iniciando a construção da mais elevada ciência
religiosa de todos os tempos, para as coletividades porvindouras.
O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO
Estudando-se a trajetória do povo israelita,
verifica-se que o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos
secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres da
raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.
Eminentes espiritualistas franceses, nestes
últimos tempos, procuraram penetrar os seus obscuros segredos e, todavia,
aproximando-se da realidade com referência às interpretações, não lhes foi
possível solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.
Os livros dos profetas israelitas estão
saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento
parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não
obstante a sua feição esfingética, é no conjunto um poema de eternas
claridades. Seus cânticos de amor e de esperança atravessam as eras com o
mesmo sabor indestrutível de crença e de beleza. É por isso que, a par do
Evangelho, está o Velho Testamento tocado de clarões imortais, para a
visão espiritual de todos os corações. Uma perfeita conexão reúne as duas
Leis, que representam duas etapas diferentes do progresso humano. Moisés,
com a expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual
as leis básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce do
aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a Humanidade a
desferir, das sombras da Terra, o seu vôo divino para as luzes do Céu.
O MONOTEÍSMO
O que mais admira, porém, naquelas tribos
nômadas e desprotegidas, é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos
mais arrojados e espinhosos caminhos.
Enquanto a civilização egípcia e os
iniciados hindus criavam o politeísmo para satisfazer os imperativos da
época, contemporizando com a versatilidade das multidões, o povo de Israel
acreditava somente na existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual
aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.
Quarenta anos no deserto representaram para
aquele povo como que um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e
ardente.
Seguiu-lhe Jesus todos os passos,
assistindo-o nos mais delicados momentos de sua vida e foi ainda, sob o
pálio da sua proteção, que se organizaram os reinos de Israel e de Judá,
na Palestina.
Todas as raças da Terra devem aos judeus
esse benefício sagrado, que consiste na revelação do Deus Único, Pai de
todas as criaturas e Providência de todos os seres.
O grande legislador dos hebreus trouxera a
determinação de Jesus, com respeito à simplificação das fórmulas
iniciáticas, para compreensão geral do povo; a missão de Moisés foi tornar
acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais iniciados
eram compelidos a ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras
da antigüidade, destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina
que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade
religiosa para a alma simples e generosa do povo.
A ESCOLHA DE ISRAEL
No reino de Israel sucederam-se as tribos e
os enviados do Senhor. Todos os seus caminhos no mundo estão cheios de
vozes proféticas e consoladoras, acerca dAquele que ao mundo viria para
ser glorificado como o Cordeiro de Deus.
A cada século renovam-se as profecias e cada
templo espera a palavra de ordem dos Céus, através do Salvador do Mundo.
Os doutores da Lei, no templo de Jerusalém, confabulam, respeitosos, sobre
o Divino Missionário; na sua vaidade orgulhosa esperavam-no no seu carro
vitorioso, para proclamar a todas as gentes a superioridade de Israel e
operar todos os milagres e prodígios.
E, recordando esses apontamentos da
história, somos naturalmente levados a perguntar o porque da preferência
de Jesus pela árvore de David, para levar a efeito as suas divinas lições
à Humanidade; mas a própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os
povos de então, sendo Israel o mais crente, era também o mais necessitado,
dada a sua vaidade exclusivista e pretensiosa "Muito se pedirá de quem
muito haja recebido", e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto,
em matéria de fé, sendo justo que se lhes exigisse um grau correspondente
de compreensão, em matéria de humildade e de amor.
A INCOMPREENSÃO DO JUDAÍSMO
A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao
mundo, não foi absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não
esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para
surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria
chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à
Terra pela legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis
do mundo, conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos
do planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos
Césares. E, no entanto, o Cristo surgira entre os animais humildes da
manjedoura; apresentava-se como filho de um carpinteiro e, no cumprimento
de sua gloriosa missão de amor e de humildade, protegia as prostitutas,
confundia-se com os pobres e com os humilhados, visitava as casas
suspeitas para de lá arrancar os seus auxiliares e seguidores; seus
companheiros prediletos eram os pescadores ignorantes e humildes, dos
quais fazia apóstolos bem-amados. Abandonando os templos da Lei, era
freqüentemente encontrado ao longo do Tiberíades, em cujas margens pregava
aos simples a fraternidade e o amor, a sabedoria e a humildade. O
judaísmo, saturado de orgulho, não conseguiu compreender a ação do celeste
emissário. Apesar da crença fervorosa e sincera, Israel não sabia que toda
a salvação tem de começar no íntimo de cada um e, cumprindo as profecias
de seus próprios filhos, conduziu aos martírios da cruz o divino Cordeiro.
NO PORVIR
As organizações dos doutores da Lei
subsistiram no curso incessante dos tempos. Embalde esperaram eles outro
Cristo, nestes dois milênios que ora chegam a termo. A realidade é que um
sopro de amargura pesou mais fortemente sobre os destinos da raça, depois
da ignominiosa tarde do Calvário. As sombras simbólicas, que caíram sobre
o Templo de Jerusalém, acompanharam igualmente o povo escolhido em todas
as diretivas, pelas estradas longas do mundo, com amplos reflexos no
ambiente contemporâneo.
Israel continua a cultuar o Deus
Todo-Poderoso dos seus profetas, seus rituais prosseguem em pontos
isolados do orbe inteiro.
É talvez a raça mais livre, mais
internacionalista, mais fraternal, entre i, mas também a mais altiva e
exclusivista do mundo.
Apesar de não ter uma pátria (*) e não
obstante todas as perseguições e clamorosas injustiças experimentadas nas
suas jornadas de sofrimento, Israel faz o seu roteiro através das cidades
tumultuosas, esperando o Messias da sua redenção e da sua liberdade.
Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa
através dos séculos de lutas expiatórias e regeneradoras.
Novos conhecimentos dimanam do Céu para o
coração dos seus patriarcas e não tardará muito tempo para que vejamos os
judeus compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro
Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada
salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.
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(*) Nota da Editora: Este livro foi
escrito em 1938, dez anos antes de ser criado, na
Palestina, o Estado de Israel.
Livro: A Caminho da
Luz Médium: Francisco Cândido Xavier Espírito: Emmanuel |