O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO |
O Evangelho segundo o Espiritismo
"O EVANGELHO É UM CÓDIGO MORAL E NESSE SENTIDO É QUE DEVE SER ENCARADO PELOS ESPÍRITAS." J. HERCULANO PIRES
Um
esboço histórico de O Evangelho segundo o Espiritismo não
pode ser feito senão considerando-se a Doutrina Espírita como
um todo, no seu tríplice aspecto — filosófico, científico
e religioso.
Não foi sem razão que O Evangelho... surgiu como o terceiro livro
da série kardequiana.
O Livro dos Espíritos, concernente à parte filosófica,
apareceu a 18 de abril de 1857. O Livro dos Médiuns, relativo à
parte experimental e científica, veio a lume em janeiro de 1861. O Evangelho
segundo o Espiritismo, de conteúdo moral e religioso, somente foi publicado
em abril de 1864 (e não no mês de agosto, como assinala Yvone Castellan,
em "O Espiritismo", pág. 47). Soergueu-se, a nosso ver, como
o coroamento da obra de Kardec.
Escreveu Ismael Gomes Braga: "... o livro por excelência do espírita
brasileiro é o terceiro de Kardec, que equivaleria (...) ao Levítico
e ao Evangelho de Lucas, dois livros encantadores da Bíblia".
Lógica a precedência de O Livro dos Espíritos e O Livro
dos Médiuns, de vez que o adjutório da Filosofia e da Ciência
conferiu ao Codificador maior autoridade para interpretar as palavras do Cristo,
veladas por parábolas e que, tomadas pela letra, vinham sendo deturpadas
pelos tempos em fora.
O Evangelho segundo o Espiritismo (e, de resto, toda a Codificação)
resultou de exaustivas consultas aos Espíritos, através de médiuns
de vários países, desconhecidos uns dos outros. A concordância
e espontaneidade das mensagens, recolhidas em cerca de mil centros espíritas,
isentos de qualquer suspeita, asseguram à Doutrina foros de legitimidade
e de universalidade.
Adolfo, bispo de Argel, numa comunicação em Marmande, denominou-o
"o livro branco do Cristianismo redivivo". Daí, talvez, a expressão
que pronto se generalizou: "o livro branco do Espiritismo", sobre
o qual miss Anna Blackwell assegura: — É um comentário dos
preceitos morais de Cristo, com um exame de sua vida e uma comparação
de seus incidentes com as atuais manifestações do poder do Espírito.
Kardec intitulara-o, a princípio, "Imitação do Evangelho"
(Imitation de l'Évangile selon le Spiritisme), resolvendo, afinal, dar-lhe
a denominação atual, a instâncias do editor, snr. Didier
e de mais alguns amigos.
Apesar do critério íntegro e imenso cuidado, por parte do sábio
lionês, no preparo de "O Evangelho", houve ele por bem, a conselho
de seus mentores espirituais, fazer meticulosa revisão da primeira edição,
aumentando e refundindo as matérias — segundo informa a Revista
Espírita, ano de 1865, página 356.
Natural que o livro, pelo próprio Kardec considerado como "o código
moral universal", suscitasse grande celeuma numa época em que o
clero ainda conseguia perpetrar ignomínias como o Auto-de-Fé de
Barcelona. E veio de imediato a reação. Em 1º de maio de
1864, a Sagrada Congregação do Index condenava em bloco as obras,
folhetos e jornais espíritas. O que não impediu, todavia, que
o abade Rocca, no Congresso Espírita de 1899, afirmasse suas crenças
espíritas e cristãs. Digno de aplausos o gesto destemido do citado
religioso católico!
Ao que informa Zeus Wantuil em seu livro "Grandes Espíritas do Brasil",
é ao dr. Joaquim Carlos Travassos (Fortúnio) que o Brasil espírita
deve a primeira tradução em português de O Evangelho segundo
o Espiritismo, trabalho esse realizado em 1876, à vista da 16ª edição
francesa.
Da terceira edição francesa, de 1866, originou-se a tradução
para o nosso idioma, de autoria do dr. Guillon Ribeiro, poliglota e vernaculista,
ex-Presidente da Federação Espírita Brasileira.
Até princípios de 1976, a F.E.B. havia lançado 64 edições
de O Evangelho segundo o Espiritismo, num total de 960.000 exemplares. Difícil
calcular o quantun global de exemplares impressos no Brasil, mas, sem exagero,
podemos dizer que ultrapassa a cifra de 3.000.000, dado que o grandioso livro
foi igualmente editado pela LAKE, pela EDICEL, pelo IDE e pela Editora Pensamento,
até 1995.
Até a 33ª edição da FEB, houve, no Capítulo
XXIV, 3ª, omissão do versículo 12, na citação
de Mateus, 13:10 a 15. O lapso, aliás, oriundo do original francês,
veio a ser corrigido, em 1948, graças ao sonho de um médium que
alertou os responsáveis pelas edições subsequentes a fazerem
a devida verificação. Quer dizer, o Alto sempre alerta na orientação
da nossa Humanidade...
Há também a edição portuguesa em Esperanto, La Evangelio
lau Spiritismo, magistral tradução de Ismael Gomes Braga, entregue
ao público em 3 de outubro de 1927, que Haroldo de Esperanto, de 16-4-58,
adjetiva de "modelar".
O sr. N. Esumi, em nome duma importante editora japonesa, solicitou permissão
(e obteve) para traduzir O Evangelho segundo o Espiritismo no Império
do Sol-nascente. Tanto como em 1979 a FEB lançava uma edição
dele em espanhol.
E assim "o livro branco do Espiritismo" vai-se difundindo de maneira
extraordinária em escala mundial, levando ao homem sofrido e atarantado
do nosso século a dulçurosa mensagem de fé e esperança
— lenitivo e bênção do Pai Amorável e de Misercórdia.
Finalizando, diríamos que, segundo o Catálogo Geral lançado
pela FEB em começos de 1994, até 1992, dentre cerca de 400 títulos
que a Federação já editou, O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
conheceu 106 edições, desde o já citado e distante ano
de 1876, totalizando 2.455.000 exemplares, sempre no afã de enxugar lágrimas,
confortar corações, recordando a moral do Cristo ao aturdido homem
neste crepúsculo do século XX.
Aureliano Alves Netto